Pular para o conteúdo principal

PROBLEMÁTICA DOS SEMINÁRIOS CATÓLICOS: OS DESAFIOS DA RELIGIÃO APÓS O FIM DAS COLONIZAÇÕES E O ESVAZIAMENTO DO CLERO NA ERA DA INFORMAÇÃO.

O catolicismo se espalha pelo mundo por missionários que acompanharam os exploradores e colonizadores portugueses. Na época, o estado controlava a atividade eclesiástica. Sustentava a igreja, nomeava bispos e párocos e concedia licenças. Há o interesse de evangelizar, expandir a fé católica. No Brasil, por exemplo, não é à toa que uma das imagens mais importantes na esquadra de Cabral, logo quando Cabral vem ao Brasil é a celebração da primeira missa. Com o fim das colonizações e as fronteiras do mundo já estabelecidas ficou mais difícil conquistar povos "pagãos", um século depois a igreja toma sua maior declínio histórico, a reforma protestante, que foi um movimento reformista iniciado quando Martinho Lutero escreveu um documento conhecido como 95 teses. Essa reforma foi motivada pela insatisfação de Lutero com as práticas e alguns princípios teológicos praticados pela Igreja, sendo um de muitos movimentos do tipo que aconteciam na Europa desde a Idade Média. A ação de Lutero não teve como propósito a ruptura com a Igreja, mas tal rompimento aconteceu de todo modo como reação dessa instituição contra o monge alemão. A reforma protestante deu início a outros reformismos religiosos na Europa e também foi impulsionada por motivos políticos e econômicos. Há mais de 450 anos ocorreu uma reunião magna da igreja católica, onde o Frei Bartolomeu dos Mártires e o concílio de Trento, realizaram e reafirmaram os dogmas basilares do catolicismo, como trindade divina, os sacramentos, a santidade de Maria, a autoridade padal, a salvação pelas obras, o culto aos santos, dentre outros tantos assuntos importantes da época em que a igreja se passava. O concílio foi concluído com a liderança do Papa Paulo III. Ocorreu grandes reformas, sempre buscando renovar a disciplina eclesiástica e fortalecer os dogmas da doutrina católica. Naquele momento foram introduzidos estímulos reformistas em relação ao que diz respeito à formação dos padres, que foi juntamente determinante para a criação dos seminários católicos e a implementação de projetos formativos na casa do seminário conciliar de São Pedro e São Paulo. Em 2022 o congresso internacional sobre a problemática dos seminários católicos decorreu durante quatro dias e marcou a celebração dos 450 anos da criação do Seminário Conciliar de São Pedro e São Paulo. O programa apresenta-se “como potenciador de momentos de elevada cultura de reflexão sobre a emergência de novos paradigmas, em que a Arquidiocese de Braga, uma vez mais, deseja estar à frente como centro e luzeiro de reflexão e de promoção de uma ampla reforma, que ultrapasse as fronteiras da Igreja local” No qual se pensou em modelos de formação em curso e procurar necessidades de mudanças dos seminários que com o tempo ficaram defasados. O desafios que hoje cabem a igreja, são semelhantes aos problemas do passado, problemas que devem ser analisados e estudados para uma melhor solução, é portanto mais do que tentam repetir fórmulas passadas, é a necessidade em aprender com fases anteriores da igreja em que a igreja se confrontou com crises fortíssimas e encontrou caminhos para uma melhora. Os seminários também evoluíram, uma evolução acompanhada com o avanço e crescimento da sociedade, e de acordo com a evolução dos estatutos, há uma percepção em que os seminários também evoluíram: como por exemplo nas questões da formação e da disciplina e também a s questões filosóficas. Os membros da igreja vão ficando cada vez mais velhos, com falta de pessoas jovens com interesse em ingressar no catolicismo, os jovens não querem e os que querem são cada vez menos. Um dos grandes problemas é essa reiteração que ocorre cada vez menos e a falta de fidelidade. Essas confluências de problemas e crises que atualmente se englobam gradualmente mais nos seminários, o problema maior e uma talvez das soluções é um estudo eclesiológico, um estudo mais profundo da igreja, com disciplina e fidelidade, propósito, averiguando as mudanças sociais, os impactos, as mudanças temporais e o relacionamento com o mundo. Vale destacar que hoje as mulheres ocupam cerca de 80% nas igrejas. Mulheres que se entregam a Deus, que doam, que tem sua simplicidade e vontade com resignação, com luta e igualdade. Ao longo da história as mulheres sempre tiveram papéis importantes e reflexivos dentro do catolicismo, como a própria Maria de Nazaré, mãe de Jesus Cristo, Santa Mônica que foi canonizada pelo papa Alexandre III, e também a Santa Teresinha de Lisieux. A presença feminina poderia ser ainda maior dentro da igreja, mas alguns empecilhos acabam afastando muitas mulheres, como as decisões de poder dentro da igreja que ficam restritas aos homens, exemplo dos padres, bispos, diáconos, cardeais e até mesmo o papa. As principais decisões, se não todas, são destinadas somente aos homens. E esta explicação é baseada na própria história e tradição da igreja. Recentemente alguns passos foram dados para inserir mais a mulher e sua importância na igreja, passos dados pelo papa Francisco, que em 2022 nomeou 3 mulheres para fazerem parte do Dicastério, que é um departamento do governo da igreja católica que compõem a cúria, exemplo, a secretaria, congregações, tribunais eclesiásticos, conselhos, comissões e comitês. Este departamento até então era de exclusividade dos homens. E um dos objetivos do papa é valorizar mais a mulher e inserir com uma maior participação nas decisões católicas, fazendo assim com que elas sejam mais reconhecidas e respeitadas. Em todo o tempo a sociedade está em transformação, e observando os seminários no contexto de toda a igreja e de toda a sociedade, atendendo as mudanças em curso às novas configurações de pessoas e instituições aos sinais dos tempos. Observa-se um esvaziamento, um padrão de recrutamento de membros para o clero da igreja e de sua formação relacionados a diocese e da mesma forma as congregações religiosas, devido a acontecimentos de grande crescimento e de diversos outros fatores. Hoje a sociedade é diferente de séculos anteriores houve uma mudança radical na cultura e comportamento humano, mudanças que sempre vão ocorrer ao longo da história. Com isso há a necessidade de um novo modelo no curso de sacerdócio do ministério sacerdotal, adaptando para algo novo com o objetivo de demonstrar mais e de incentivar mais. O antigo modelo está atrasado e defasado, devido ao longo tempo de sua criação, tem que modificar para algo novo, em uma realidade inteiramente distinta dos séculos anteriores. Como já foi dito, uma mudança cultural e social. A teóloga Cristina Inoges Sanz fala que de um modelo novo, ela fala de um modelo que esteja em sintonia com as perguntas da sociedade. E dá um pequeno exemplo que “para além de todas as mudanças que é preciso fazer na reflexão teológica e pastoral, que tem de se adaptar a sociedade em que vivemos, há um aspecto que os futuros sacerdotes não estão formados: saber expressar, compartilhar e assumir que tem sentimentos e que têm realidade na sua vida para as quais não foram formados e não sabem enfrentar. E isso é fundamental na sociedade de hoje e a igreja de hoje.” Retomando mais um pouco sobre o evento em 2022 sobre a problemática dos seminários, o arcebispo de Braga, D. José Cordeiro classificou o tema do encontro como “desafiador”, referindo que “se o tempo que estamos a viver é duro e árduo, é porque algo de novo está a nascer”, e deu ainda nota da importância deste congresso internacional na construção do processo sinodal em curso e sobre o encontro, D. José Cordeiro espera que este “possa produzir frutos”. Segundo o cónego Vítor Novais, reitor do Seminário Conciliar de Braga, o congresso pretende ser “o ponto de partida para algo que se impõe”. Ao fazer um balanço do mesmo, referiu que um dos grandes ensinamentos a retirar desse período de intenso debate é que “a reflexão é sempre um passo muito importante para a transformação, mas é só o primeiro passo”, sendo que, “depois desta sequência, será necessária uma consequência efetiva em processos que são sempre de arriscar”. Alguns desafios e narrativas debatidos no congresso foram os problemas também relacionados a formação dos seminários, pois não tem a preocupação em criar seminaristas, e sim a preocupação em criar somente os seminários, como diz o conferencista italiano Alberto Melloni: “percebe-se que se criaram seminários, em vez de seminaristas, e em alguns casos, não se formaram jovens seminaristas, apenas protegem e produziram jovens”. Já a francesa Céline Béraud (Diretora dos Estudos da EHESS - École des Hautes Études en Sciences Sociales) fez uma análise sociológica acerca do contexto presbiteral em França. Perante as “pressões sociais, o desalento do ministério, os recentes casos de abusos no seio da Igreja, muitos padres sentem-se desmotivados e coagidos a agir com medo”, disse. Primeiramente, propôs uma “reconfiguração do ministério do padre, descentralizando-o da sua exclusividade enquanto ministro”. Deste modo, os seminários devem ser instâncias de cultura nova e não de fechamento comunitário. Contudo fica evidente que a globalização e o conhecimento de várias religiões e a história envolvendo todas elas influencia diretamente para as decisões das pessoas mais jovens. No mundo contemporâneo o conhecimento e as informações trazem uma reflexão mais apurada em qual doutrinar seguir, é importante salientar que as reformas protestantes surgem devido vendas de cargos e títulos do clero, ou seja, o catolicismo representava poder, riqueza e fama, hoje a realidade é completamente diferente. Todos estes acontecimentos também podem ser definidos como a secularização da igreja, onde a religião vai perdendo sua influência nas camadas sociais, e como consequência a perda e diminuição de membros religiosos dando continuidade as suas práticas religiosas. A secularização é um fenômeno que atinge todo o mundo, ela está relacionado com o espaço em que a fé vai ocupar neste mundo moderno, dentro do contexto social, filosófico e de todas as ciências. A fé era a principal base para todos as explicações e acontecimentos no mundo, porém com o tempo e avanço das ciências, as questões relacionadas para o entendimento do mundo e das coisas ficaram divididas, este também é um grande fator para a perda e afastamento das pessoas perante a crença religiosa. Pois muitas coisas religiosas entram em contradição com a ciência.

Comentários

Unknown disse…
Conteúdo de qualidade ! 👏🏻

Postagens mais visitadas deste blog

Café com Dinheiro pai.

  O cristianismo é a religião predominante no Brasil, com o catolicismo sendo a maior denominação e em segundo lugar o protestantismo. Sendo a bíblia a escritura sagrada e a principal referencia das relações entre Deus e seu povo. Cada seguimento religioso cristão tem sua hermenêutica, hermenêutica essa que nada mais é do que a técnica que tem por objeto a interpretação de textos religiosos ou filosóficos. Tradicionalmente, a hermenêutica refere-se ao estudo da interpretação de textos escritos, especialmente nas áreas de literatura, religião e direito. Todavia, contemporaneamente, a hermenêutica engloba não apenas textos escritos, mas também tudo o que está envolvido no processo interpretativo. Isso inclui formas verbais e não verbais de comunicação. Sendo assim, ao passar do tempo surge vários livros devocionais. Esses livros contêm reflexões e orientações para a meditação bíblica. O objetivo é ajudar o leitor a aprofundar a sua prática devocional e a aproximar-se de Deu...

De Jacó à ONU: por que o Israel atual não é o da promessa bíblica

Israel bíblico e Israel moderno: por que não são a mesma coisa.  Nas últimas décadas, tornou-se comum em muitos meios religiosos, especialmente entre igrejas neopentecostais brasileiras, a ideia de que o Estado moderno de Israel é a continuação direta do Israel bíblico descrito nas Escrituras. Essa associação, no entanto, carrega uma série de confusões históricas e teológicas que merecem ser esclarecidas. De um lado, temos o Israel bíblico, um conceito essencialmente espiritual e ancestral. De outro, o Israel moderno, criado em 1948, após a Segunda Guerra Mundial, por decisão das Nações Unidas. São dois "Israéis" com origens, naturezas e propósitos completamente distintos, mesmo que compartilhem o nome e parte do território. O Israel da Bíblia    O Israel bíblico tem origem na figura de Jacó, patriarca do Antigo Testamento, que recebe o nome “Israel” após uma experiência espiritual. Seus filhos formam as doze tribos de Israel, que se estabelecem na terra de Canaã (região...
Não é tão difícil entender de onde e o porquê da quantidade avassaladora de votos para presidente em Jair Bolsonaro, pois nada é mais claro e evidente do que as afinidades e representatividade de sua figura, mesmo que caricata de suas ideias. Durante muito tempo houve uma luta contra a intolerância, não era admissível por exemplo, racismo, homofobia, perseguição às religiões de matrizes africanas e muito mais, pois foi estabelecido que tudo isso era crime e foi combatido como tal, hoje as pessoas não tem medo das punições ao cometer e praticar esses atos, pois ficam impune, pagam fianças e driblam a justiça para não pagar por esses crimes, alegam liberdade, defendem que a prática de exercer tais atos é liberdade. Baseado nisso (e muito mais) temos na figura do atual presidente o símbolo maior dessa falsa liberdade, pois todos os dias seguidamente o mesmo pratica alguma forma de intolerância, assim o tiozinho que se sentia acuado, a senhora do AP-202 que tinha medo de falar ou pr...